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de Heiner Müller

ESTREIA 1922 JUNHO 2025

CASA DE TEATRO DE SINTRA

Qui. a Sáb. 21h30 / Dom. 16h00

Contornos da dramaturgia

O mito de Medeia acompanhou Heiner Müller durante mais de trinta anos, até ao fim da sua vida de escritor. A personagem surge em fragmentos escritos logo após a guerra.

O trabalho teatral de H. Müller esteve frequentemente envolvido com os textos clássicos, gregos e shakespearianos, com a dor e a morte neles contidos. A sua marca pessoal consiste na remoção do ponto de vista moral, do alívio catártico, e das unidades de tempo e espaço. Mas o seu pós-modernismo não é a aplicação formal de um estilo ou de um pressuposto estético. É a composição química da obra. Por isso a fria descrição das influências e das transmutações a que a submete não consegue aproximar-se desses textos dramáticos.

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Heiner Müller entende como poucos a essência do mito na Antiguidade trágica e a viabilidade da sua permanência entre nós. A intensidade do mito perde-se na reescrita e na alegorização. Sob a limpeza e o utilitarismo da linguagem, sob o desejo de clarificação ou de transposição para o contemporâneo, está somente deitado o esqueleto, a história, o que o público grego conhecia e que não era aquilo que o atraía para o espetáculo.[1]

H. Müller intenta pôr em palco a outra coisa, o ambiente, o uivo, o sentimento coletivo do horror (defende o emprego desta palavra, tradução de «phobos», em vez de «medo», que é uma versão suave). É uma energia desestruturada, uma carne, uma voz, um amontoado, anteriores ao pensamento individual e ao discurso linear e pontuado. H. Müller recua até ao «pathos» e menospreza o «logos».

[1] «Não consigo de qualquer modo fazer esse tipo de coisas, vestir à moda antiga um problema actual».
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Müller considera os mitos como «agregados» que transportam energia, «experiências coletivas coaguladas», um «esperanto, uma língua internacional que não é apenas compreendida na Europa». Trabalhou o texto Medeia Material durante longos anos. É o painel central de um tríptico dedicado aos Argonautas, aos desastres, à crueldade, à desordem e à sujidade das guerras e dos guerreiros de qualquer ocupação. No fim do primeiro texto, Margem Abandonada, surge Medeia, a que é sábia em venenos. Ela vai assumir o protagonismo no texto seguinte.

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H. Müller declara que se inspirou em três Medeias: a de Eurípides, fundadora e irrepetível, a de Séneca, provavelmente escrita só para ser lida, dura, sem corpo, e a de Hans Henny Jahn, estreada em 1926, uma Medeia negra. Considera que Medeia e os Argonautas simbolizam a passagem do mito à história, são o momento original da colonização organizada. E acima de tudo, ele vê no mito a possibilidade de obrigar os seus contemporâneos a refazerem a sua posição no mundo, abandonando soluções unívocas.

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Medeia é o «material» usado por Jasão. Certas adaptações inglesas desta peça têm como título Material for Medea. Mas o material não é o conjunto de recursos cénicos e linguísticos com o qual Heiner Müller constrói a sua peça. O material é Medeia, Medeia atuante, o material é o ódio que enche o palco e que gera o volume do seu corpo e rompe o ar com a vibração da fala.

O dramaturgo não permite que alguém esqueça que o que está a passar-se é uma encenação. Medeia chama «atores» aos filhos e vangloria-se com o terrível espetáculo que montou. Também aqui ecoa a essência grega, a perceção pelo espectador de que o não-real do teatro é mais arrasador do que o real.

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A peça reproduz as coordenadas nobres do mito: o amor-paixão que submete a fêmea e a avilta a ponto de a tornar traidora e assassina do seu clã, a civilização ocidental que se encaminha para a racionalidade totalitária e entende a conquista como ação natural das raças superiores. Mas, ao contrário das versões redentoras que intentam dar medida humana e desculpa humana para o filicídio, a peça de Müller mantém intacta uma sanguinolência primitiva. O gosto de morder, de abocanhar e de arrancar a carne de outro rosto, já trabalhado em Ciment, ainda mora nas gengivas domesticadas. A primitiva cumplicidade com a natureza, o animal guardado nos sentidos e na capacidade de defesa, uma sabedoria anterior à razão e que perdura no mistério do teatro, tudo Medeia põe em jogo na sua «crise».

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Alterar o sistema da linguagem e alterar as leis da geração está ao seu alcance. Inverte o parto, põe os filhos dentro. O «eu» que ela enuncia muita vez é a afirmação não de uma identidade, que vemos dissolvida, mas de uma existência que se quer estranha a categorias. Ela deseja não ser homem nem mulher, partir o mundo ao meio e habitar nesse nada. A «pólis» arde, deixa de existir como organização e Jasão perde o rosto no final.

Para Heiner Müller, Medeia não é, pois, a reescrita de uma história ou de um mito, mas a convocação de uma força emotiva que parecia perdida, o balbuceio de uma linguagem que se organiza para desorganizar a moribunda relação dos humanos. Ela ouve a sua Cólquida gritar e o que a sua voz diz é esse grito.

«Que os espectadores compreendam ou não esta peça é um problema do encenador», diz Müller. De facto, não se trata de compreender, mas de queimar a pele ao seu contacto.

Hélia Correia

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Ficha artística e técnica

Texto

Heiner Müller

Tradução

Maria Adélia Silva Melo

e Jorge Silva Melo

Dramaturgia e Encenação

Mário Trigo com Jaime Rocha


Interpretação

Cirila Bossuet

Miguel Coutinho

Philippe Araújo

Desenho de Luz

Mário Trigo

Cenografia

Pedro Silva

 

Figurinos

Catarina Graça

Design, Fotografia, Teaser

Tânia Cadima

Gestão de Apoios

Joana Ferreira

Produção

HIPÉRION Projeto Teatral 2025

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Âncora 1

Informações e reservas:

+351 219 233 719

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Rua Veiga da Cunha 20, 2710–627 Sintra
 

TEATRO M/16

ESTREIA 19 – 22 JUNHO 2025

Qui. a Sáb. 21h30 / Dom. 16h00

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