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de OLIVIER SYLVESTRE

Tradução 
MARGARIDA MADEIRA

5 – 13 ABRIL 2025 / Sábados e Domingos 16H00

No AMASAuditório Municipal António Silva / Cacém – Sintra

Contornos da dramaturgia

Este projeto acomoda-se no segundo andamento de uma trilogia de espetáculos para adolescentes e núcleos familiares coproduzidos pela HIPÉRION Projeto Teatral e pelo teatromosca. A narrativa estende-se por uma paisagem diarística em que os pontos cénicos ligam comportamentos a vivências insólitas — visões líricas de quem vai encontrando o mundo que recebe.

A passagem do estado da adolescência para uma inserção sociológica traz desafios pessoais, expõe sentimentos desconhecidos que deverão ser harmonizados, visando uma vida adulta livre.

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Childhood is a notion of geography (ou o mapa-mundo rasgado)

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A narrativa é igual à vida; a ausência de narrativa, à morte. Se Sherazade não encontrar mais contos para narrar, será executada.

 

Tzevtan Todorov, Poética, 2006

Da memoria e da fabula

 

A fábula, desde tempos imemoriais, tem por função gregária proteger-nos do medo da Besta Primordial. É uma frase de Shakespeare. Não de William de Stratfordupon-Avon. Do seu homónimo Nicholas, amigo e biógrafo de Bruce Chatwin (1940- 1989), parafraseando o autor de todos os rascunhos de The Prince of Darkness is a Gentleman, obra que nunca chegou a publicar. Todavia postulava amiúde que para os antigos guardiões do fogo as histórias não eram apenas entretenimento, mas um garante de sobrevivência [caixa nº 30 Arquivo B.C: “Man is a talking animal, a storytelling animal”].

Não causa admiração que os demais companheiros de Chatwin (Sepúlveda, Herzog e Rushdie) o caracterizassem como a pessoa mais interessante que jamais conheceram. A biografia de Bruce tem mais páginas do que a soma dos seis romances que publicou durante a sua nómada, curta e preenchida vida. Não sendo o todo igual à soma das partes, fica, porém, a indagação lúdica (sem resposta) do que será deveras mais aparentado com a ficção: a vida que viveu ou as suas magníficas narrativas. A resposta é outra: a besta primordial era, afinal, a sua solar, mas tão atormentada alma. A Gentleman.

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A frase que dá título a estas linhas é decalcada da legendagem anglófila da última entrevista de Brell que manifestamente se encanta e assusta com a (sua) infância (sempre o medo). Não é algo de novo nem nada de novo há debaixo do sol. Twain sabia-o bem. Mais do que em Huckleberry (a sua obra magna), é em Sawyer que nos apresenta a fuga das crianças à bestialidade de Indjun Joe. Uma década depois, Berrie é menos feliz, mas certeiro ao perpetuar a infância na Terra do Nunca de Peter Pan; assim como no próprio herói do romance.

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Outra vez Brell: a floresta é uma realidade toponímica ou algo de eponímico e ontológico do ponto de vista da espécie humana, ante factum no que concerne à fixação da narrativa em palavra escrita?

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Na mais antiga narrativa escrita que conhecemos – O Épico Gilgamesh (Ur III, Suméria, atual Iraque, c. 3000 a C.) Enkidu e Gilgamesh sofrem o primordial anátema de atravessar o Bosque dos Cedros (a floresta). Que veio – no curso contínuo da tradição que é ainda a nossa – integrar o bíblico Génesis; desta feita como Dilmun ou Éden. Seja qual for a direção do caminho, a floresta é sempre, no longo tempo da história (oralizante ou escrita) o locus de um ritual da passagem de uma condição existencial a outra. Quase sempre da infância à adultícia.

A perda da inocência e seu amargo preço: uma consciência de finitude e absurdo. Um outro medo: aquele que é o enjeitado filho da mãe de todas as guerras: a ignorância. Uma dicotomia desconcertante algures Na Floresta Desaparecida da espuma dos (nossos) dias.

Valha-nos a milionésima primeira noite da fábula: aquela em que Sherazade se salva. Não só a si. É a contadora de histórias que deveras salva também o Sultão da sua própria besta interior.

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Da ars poética

 

Enfim o modo, a artesania e a forma: não que nos fosse desconhecida a mestria de Mário Trigo (Uma Ilha – o diálogo meliano, 2022; A Secret About a Secret, 2023 – só para evocar trabalhos recentes de um longo, laborioso e eclético percurso criativo). Porém, é imperativo notar que, na sua encenação para Na Floresta Desaparecida, Trigo apresenta um dispositivo textual dramatúrgico eivado de cinemáticas tonalidades.

Sem perder o foco da dramaturgia, a composição da arte cinematográfica de Syd Field (um analítico acervo de fílmicas fontes, da igualha do método de Aristóteles na abordagem da tragédia que conhecemos da Poética) aliado à narratologia de Todorov, resultam numa originalíssima teatral sonata de Lizt (a única que compôs: sonata para piano em si menor, S.178; Franz Liszt:1811–1886; criador do conceito poema sinfónico); na enganadora serenidade do seu introito e na vertiginosa velocidade do fraseado, pontuado por anotações melódicas e uma obstinada recorrência de síncope: o prólogo da peça, a urgência dos protagonistas (as crianças Oli e Val), as notas narrativas de quem (também) narra (Marcel, o velho) e a obstinada precisão, 16 vezes bem repetida, da palavra chave: o “medo”.

Poucas palavras para uma visão a frio de um sortilégio que é atributo de poucos: parafraseando Marcel, «o tesouro é a recompensa dos corajosos». Como Olivier Sylvestre, que arrisca tudo em Na Floresta Desaparecida (dramatúrgico poema sinfónico) e nos vence, prende e arrebata.

Alexandre Sarrazola, Palmela, fev.25

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Ficha artística e técnica

Texto

Olivier Sylvestre

Tradução

Margarida Madeira

Encenação

Mário Trigo


Interpretação

Rafael Barreto

Miguel Coutinho

Milene Fialho

Ilustração

Alex Gozblau

Desenho Luz e Operação Técnica

Diogo Graça

Cenografia

Pedro Silva

 

Figurinos

Catarina Graça

Direção de Produção

Inês Oliveira

Produção Executiva

e Fotografia

Catarina Lobo

HIPÉRION Projeto Teatral:

 

Webdesign

Tânia Cadima

 

Gestão de Apoios

Joana Ferreira

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Coprodução

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Financiamento​

dgartes
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NA FLORESTA DESAPARECIDA

de Olivier Sylvestre

M/12​​

5 – 13 Abril 2025
Sábados e Domingos 16H00
No AMAS – Auditório Mun. António Silva

 

Shopping Cacém
Rua Coração de Maria, nº1
2735-470 Cacém

 

Informações e reservas:

+351 91 461 69 49

geral@teatromosca.com 

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Âncora 1
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